Leisure in later life: The whole Person: transparency Vs relationship

O Lazer nas idades tardias: a Pessoa Inteira: transparência Vs relação

“Diz-me o que fazes quando estás livre para fazer o que queres,

e eu te direi que tipo de pessoa és”

(Charles Brightbill, 1960)

Escrevo este texto motivada por inquartações práticas da vida de todos os dias. Por exemplo: porque é que é aceite que as pessoas de maior idade têm o tempo todo livre? E, perguntamos aos adultos mais velhos o que gostam e o que querem fazer no seu tempo livre?

Independentemente da idade, todos nós partilhamos o mesmo presente. Isto é: não há pessoas do passado, o que nos distingue é a lonjura da nossa história sendo a incerteza quanto ao futuro…igual para todos. Se partilhamos o mesmo presente…como pode haver tantas pessoas de maior idade transparentes? O outro…aquele que partilha o mesmo presente que eu.O que fará com que as pessoas idosas sejam invisíveis no nosso presente? Como devolver-lhes a visibilidade?

São perguntas aparentemente fáceis, mas são muito difíceis de responder. Envelhecer, isto é, avançar na reta do tempo vivendo mais anos, é um processo dinâmico e mais complexo do que a contagem ou soma dos anos que se vive. A este processo pode chamar-se o Desenvolvimento Humano ao Longo da Vida (Vaillant, 2003).E que bom seria que este desenvolvimento fosse Integral. Um desenvolvimento Humano Integral, isto é olhar para qualquer pessoa como um fim em si mesmo, considerando todas as dimensões da vida: económica, social, cultural, política e espiritual, ou seja, “a pessoa toda” (Papa Paulo VI, 1967, p.14).

O envelhecimento não é sinónimo de doença nem prediz uma fatalidade, importando referir que em cada fase da vida (ao longo do processo) os indivíduos têm um olhar próprio sobre a realidade, sendo que as decisões tomadas ao longo da vida são relevantes (Vaillant, 2003; 2008). Neste sentido o referido autor elenca sete indicadores com impacto no bem-estar em idades tardias: i) as amizades e boas companhias que se fazem ao longo da vida; ii) dedicar-se a alguém de forma genuína; iii) um bom casamento aos 50 anos é mais relevante para o bem-estar aos 80 anos do que o nível de colesterol considerado bom. iv) consumo controlado de estimulantes, tabaco e álcool; v) ocupar o tempo de forma saudável; vi) cultivar as relações sociais, cultivar a curiosidade intelectual e manter as aprendizagens ao longo da vida. (Estes aspetos, depois da reforma, revelam ser mais impactantes no bem-estar dos indivíduos do que o valor monetário da própria reforma); vii) o bem-estar subjetivo, isto é, sentir-se bem, (muitas vezes a saúde subjetiva revela ter mais impacto no processo de envelhecimento do que efetivamente ter saúde).

No ponto v – a saudável ocupação do tempo, e no ponto vi – cultivar as relações sociais, cultivar a curiosidade intelectual e manter as aprendizagens ao longo da vida, somos convidados a chamar o lazer. O lazer pode definir-se como uma atividade praticada de livre vontade e praticada no tempo livre. As questões associadas à gestão do tempo são relevantes, nomeadamente a procura de tempo livre para a prática de atividades agradáveis. Sendo relevante salvaguardar que o tempo livre das pessoas idosas tende a não ser valorizado e, ninguém (ninguém) tem o tempo todo livre, independentemente da idade.

O Lazer é Sério quando tem objetivos, é aquela atividade realizada sistematicamente encarada como um hobby e realizada com espírito amador ou voluntário. É uma atividade particularmente significativa e interessante para o praticante, em que os indivíduos evoluem e progridem articulando os seus recursos e competências, os seus conhecimentos e a experiência, e, daqui retiram uma realização relevante (Stebbins, 1982; 2020).

De acordo com o mesmo autor, o Lazer permite: i) agarrar uma atividade relevante; ii) aumentar as competências, recursos, conhecimentos e a experiência pessoal; iii) atingir objetivos cada vez mais sofisticados; iv) ter uma experiência ótima e, v) sentir uma realização profunda. É caso para dizer que o Lazer pode ser um caso muito sério.

A interação cara-a-cara permite que coletivamente seja possível desconstruir preconceitos e estereótipos sociais graves acerca do envelhecimento e da velhice contribuindo assim para a construção de relações positivas e apreciativas. A pertença a um grupo de Lazer Sério pode ser crucial para que os adultos mais velhos vivam em relação (d’Araújo et al, 2022).  E, talvez o mais importante de tudo: através do lazer percebemos que as pessoas de maior idade deixam de ser transparentes e passam a ser alguém com quem se partilha um interesse, alguém com vontade e objetivos. Uma pessoa inteira.

Termino com outra inquietação: se partilhamos o mesmo presente a idade será assim tão importante? E junto uma pista para reflexão: como vai a gestão do meu tempo livre?

Referências

d’Araújo, M. A., Alpuim, M., Rivero, C., & Marujo, H. Á. (2016). Narrative practices and positive aging: A reflection about life celebration in a group of old women. Women & Therapy, 39(1-2), 106-123.

d’Araújo, M. A., Fonseca, J. R. S. & Serra, F.H.  (2022). The importance of remembering that Leisure’s a human right (also) for elderly people – Contributions for old women from Portugal to belong to a leisure group. In Older Women in Europe
A Human Rights-Based Approach. Ed. Isabella Paoletti. Routledge

P. Paulo VI (1967). Populorum Progressio – Encíclica do Sumo Pontífice Papa Paulo VI.

Stebbins, R. A. (1982). Serious Leisure: A Conceptual Statement. The Pacific Sociological Review, 25(2), 251–272. doi:10.2307/1388726

Stebbins, R. A. (2020). The serious leisure perspective: A synthesis. Basingstoke, UK: Palgrave Macmillan.

Vaillant, G. E. (2003). Aging well. New York, NY: Little Brown. Vaillant, G. E. (2008). Aging well: Surprising guideposts to a happier life from the landmark study of adult development. Hachette UK.

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