Reflecting on the Church’s Social-Charitable Action with the Archbishop of Évora

Refletindo sobre a Ação Sócio-Caritativa da Igreja com o Arcebispo de Évora

Somos desafiados a ter um olhar sempre novo e renovado “para as margens”, para lá daquilo que é a fronteira do razoável no contexto muitas vezes hipócrita da nossa sociedade e da nossa cultura; somos desafiados a ir ao limite, como Jesus foi.

Tiago Abalroado / D. Francisco Senra Coelho

          A palavra Caridade para a Igreja significa “olhar para o outro como Cristo olharia”. Como é que Jesus olhou para a prostituta? Como é que olhou para o leproso, para o cego e para a situação do pecador corrupto, o Mateus? Como é que Jesus olhou para Zaqueu, o ladrão, ou para o bom ladrão que estava junto dele na cruz, desprezado por todos e condenado à morte?

          Somos desafiados a ter um olhar sempre novo e renovado “para as margens”, como diz o Papa Francisco, para lá daquilo que é a fronteira do razoável no contexto muitas vezes hipócrita da nossa sociedade e da nossa cultura; somos desafiados a ir ao limite, como Jesus foi.

          Uma das novas formas de organização da Caridade, que surgiu na nossa contemporaneidade, são as IPSS, as Instituições Particulares de Solidariedade Social de origem canónica, fundadas muitas vezes pelas paróquias, entre os Párocos e os leigos e depois confirmadas pelos Bispos.

          Nos últimos tempos, especificamente ao nível da Conferência Episcopal, tem existido alguma reflexão sobre esta herança que vem até nós, tendo por base a certeza de que as designadas instituições sócio-caritativas nasceram do empreendedorismo local, de pessoas que se apaixonaram pela necessidade de dar respostas concretas às vulnerabilidades sociais dos seus meios. A renovação deste segmento da pastoral, que terá certamente de acontecer, não poderá, porém, ocorrer pondo de parte a dimensão vivencial destas pessoas.

          Efetivamente é necessário pensar em formas mais empenhadas e eficientes de, perante os desafios conjunturais da atualidade, que também são novos, melhorar substancialmente a resposta existente e, ao mesmo tempo, gerar novas respostas adequadas às realidades sociais do presente. Importa fazer uma leitura dos sinais dos tempos e encontrar caminhos de renovação, compatibilizando a mudança com o quadro legislativo vigente.

          Há necessariamente caminhos a percorrer com vista a garantir a autossustentabilidade das instituições, a qualidade das respostas sociais e o acompanhamento personalizado dos utentes. É, sobretudo, necessário crescer ao nível do trabalho em conjunto, ultrapassar uma espécie de quadriculado de quintais murados onde cada instituição, em virtude da luta que teve de viver para se constituir, se habituou a contar consigo sem um olhar atento à envolvência. Seria da maior relevância encontrar, no momento atual, vias de trabalho em comum, no que diz respeito a medidas concretas para benefício das instituições e dos seus utentes, como sendo, por exemplo, a criação de uma central de compras ou até mesmo a negociação concertada de contratos de seguros, energia elétrica e combustíveis.

          Do mesmo modo, urge resolver a escassez de mão-de-obra nos vários âmbitos das instituições sociais e, ao mesmo tempo, prover a criação de condições propícias à prestação de um bom serviço no campo da saúde no contexto das diferentes tipologias de resposta. Há, neste sentido, serviços que têm de ser refletidos, serviços novos, serviços reformulados, Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas que têm de passar a ser Unidades de Cuidados Continuados, respostas novas que se impõem.

          Às questões novas será preciso responder com reformulações, com readaptações trabalhadas conjuntamente e de forma programada, sem nunca perder de vista a resolução dos pequenos problemas das comunidades.

          Lamentavelmente ainda é cultivado pelas estruturas públicas a promoção de um trabalho social em série, na forma da antiga mecânica das fábricas. Ora, olhando as necessidades atuais e emergentes, há que pensar na revisão do modelo de cooperação entre o Estado e o Setor Social e Solidário segundo uma lógica de todo, mediante a atribuição de comparticipações financeiras ajustadas à realidade e ao trabalho específicos de cada organização, sem segmentações por resposta social e favorecendo a sua autonomia. Não é saudável que as instituições andem de chapéu na mão, a pedir que sejam revistos os acordos de cooperação; é necessário que haja confiança nas instituições por meio de uma relação de parceria que seja autêntica.

          No contexto particular da Pastoral Social organizada, os Párocos são chamados a ser ponte entre a realidade de dimensão social e a caridade organizada da Igreja, podendo a direção das diversas estruturas ser confiada a leigos profissionalmente competentes e com formação cristã, que exerçam as suas funções em nome de todos os cristãos que formam as comunidades.

          Mas, afinal, o que é a matriz cristã? É a personalização, é ver no outro Cristo. A especialidade e perícia das instituições sociais da Igreja tem de ser em humanidade. Cada funcionário de uma IPSS cristã é um voluntário, voluntário no sorriso, no acolhimento, na ternura e na escuta. As instituições sociais canónicas devem ser organizações muito abertas, promotoras de relações-públicas com o exterior e, de modo particular, com as comunidades onde estão inseridas.

          As direções, por sua vez, não podem ser grupos de senhores que, uma vez por mês, aparecem nas organizações, uniformizados, deixando os carros nos parques de estacionamento privados e indo diretamente para a sala de reuniões, e, depois, numa outra sala, jantam uma ementa diferente daquela que é destinada aos utentes. Quem está à frente de uma Instituição deste tipo tem de ter a capacidade de gerar a comunhão e a unidade, de aglutinar, de fazer perceber a racionalidade daquela medida, daquela norma, que, naquele momento, pode saber a imposição, mas que é fundamental, para, num momento seguinte, saber a libertação.

          Mais do que ter ideias, é preciso ler o real, perceber os sinais dos tempos e tentar resolver com realismo, criatividade e empreendedorismo o contexto que nos é dado viver, para não sermos idiotas de ideias, mas pessoas que, pela unidade, enfrentam com iniciativas os desafios do presente e do futuro.

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