A coragem

Somos inundados pela uma virulenta gramática do egoísmo social. Em contraposição aos valores da solidariedade e da cooperação entre indivíduos e povos, um individualismo exacerbado é apresentado como estruturante do pensamento único que se quer impor.

Quer seja através do papel das plataformas digitais, quer contando com os padrões de entretenimento ou modos de vida social, que têm na comunicação social peça essencial, a cultura do egoísmo é propagada através de um individualismo avassalador que toma conta das pessoas.

Numa cultura narcísica como a nossa, permeada pela moral do individualismo levada ao seu exagero, cada qual trata apenas de sua vida, e considera o outro como o inimigo e o rival, seja isso real, seja potencial.

A difusão de conceitos como os da competitividade ou sucesso individual à margem das relações sociais; a atomização da vida coletiva; a estigmatização das organizações sociais e da sua intervenção no plano dos direitos coletivos; o apelo ao conformismo – são alguns dos exemplos de conceções profundamente enraizadas na sociedade a que pertencemos.

Todo este processo é intensificado nos nossos dias por uma manipulação conceptual sobre o desenvolvimento humano, que, de forma insidiosa, visa descredibilizar as pessoas, projetos e instituições com um consequente compromisso social, com intervenção em favor da justiça social, com propostas para uma nova humanidade.

Esta é, por consequência, toda uma torrente contra a democracia e o regime democrático, de ataque aos seus valores.

Intervir nesta sociedade requer coragem. Defender o desenvolvimento humano integral e o dever da solidariedade; reivindicar um novo humanismo e um desenvolvimento novo; querer o esforço da inteligência e da vontade para que cada homem consiga crescer em humanidade, valer mais, ser mais – tudo isto, exige caminhar contra a corrente. Implica a coragem de intervir e de se opor: a um problema, a um repto, a um perigo.

A coragem é a virtude do começo – de começar a resistir, de começar a lutar, de avançar contra a ordem das coisas.

THE COURAGE

We are inundated by a virulent grammar of social selfishness. In contrast to the values ​​of solidarity and cooperation between individuals and peoples, an exacerbated individualism is presented as structuring the unique thought that is sought to be imposed.

Whether through the role of digital platforms, or relying on entertainment standards or ways of social life, which have an essential role in the media, the culture of selfishness is propagated through an overwhelming individualism that takes hold of people.

In a narcissistic culture like ours, permeated by the morality of individualism taken to its exaggeration, each person only deals with their own life, and considers the other as the enemy and the rival, whether real or potential.

The diffusion of concepts such as competitiveness or individual success outside of social relations; the atomization of collective life; the stigmatization of social organizations and their intervention in terms of collective rights; the appeal to conformism – are some of the examples of conceptions deeply rooted in the society to which we belong.

This entire process is intensified in our days by a conceptual manipulation of human development, which, in an insidious way, aims to discredit people, projects and institutions with a consequent social commitment, with intervention in favor of social justice, with proposals for a new humanity.

This is, therefore, a whole torrent against democracy and the democratic regime, an attack on its values.

Intervening in this society requires courage. Defend integral human development and the duty of solidarity; demand a new humanism and a new development; wanting the effort of intelligence and will so that each man can grow in humanity, be worth more, be more – all of this requires going against the current. It implies the courage to intervene and oppose: a problem, a challenge, a danger.

Courage is the virtue of beginning – of beginning to resist, of beginning to fight, of moving against the order of things.

---

---