Populisms, power and leadership

Reflection on leadership exercises takes us to the forms of power developed in relationships, in each environment, with other subjects.

In society, in some way, everyone has strength and exercises forms of power, at different levels and scales of relationships with others and their environment.

Regarding the relationship between humans and power, E. Canetti wrote: «There is no more brilliant expression of power than the activity of the maestro. Every detail of his public behavior is significant and whatever he does sheds light on the nature of power»[1]. The conductor is a guide, he is the one who follows, «indicates what should happen through the command of his hand and prevents what should not happen […] during the performance the world should not focus on anything other than the work carried out, while it lasts, he is certainly the master of the world»[2].

Thus, the power of order, the nature of the order itself, the power of those who order, of the recipients of orders, of obedience, arises. Power issues orders.

As if in a biological origin of order and the exercise of power, Canetti states that «the oldest order – and it is an order that was given long before human beings existed – is a death sentence and forces the victim to flee. It will be good to think about this when talking about order between human beings»[3]. In this analysis, the order derives, in its most primitive form, from the “escape order”, forcing the weaker animal to move, pursued by a stronger one. The difference in power between the two determines the intensity of the threat.

In the essence of order, the threat remains always present, although human history has incorporated a kind of bribery to “domesticate order”. In addition to the search for security, subjection, obedience, “voluntary imprisonment” arises from a promise of food: «between providing food and order an intimate relationship was created […] instead of serving as food for its owner, instead of being devoured, it is the creature itself to which this type of order is given that receives to eat”[4].

All of this is related to this time of populism, which feeds on the simplification of discourse, which is based on an «impoverished lexicon and an elementary syntax in order to limit the development of the instruments of complex and critical reasoning»[5].

This process directly connects with this evil of democracy that is populism or the populist moment.

When populist leaders throw everything into the radicalization of demagoguery, simplification, appealing to the unconscious and irrational feelings, and touching the emotional attitude of the masses, this reflection has the greatest relevance. We report the urgency of deepening democracy.

Populismos, poder e liderança

A reflexão sobre exercícios da liderança remete-nos para as formas de poder desenvolvidas nas relações, num determinado meio, com outros sujeitos.

Na sociedade, de algum modo, todos possuem força e exercem formas de poder, em diferentes níveis e escalas de relação com outros e com o seu meio.

Acerca da relação dos humanos com o poder, escreveu E. Canetti: «Não existe uma expressão mais cintilante do poder do que a atividade do maestro. Cada pormenor do seu comportamento em público é significativo e seja o que for que ele faça projeta luz sobre a natureza do poder»[1]. O maestro é um guia, é aquele que se segue, «indica o que deve acontecer por meio do mandamento da sua mão e impede aquilo que não deve acontecer […] durante a performance o mundo não deve concentrar-se em mais nada senão na obra executada, enquanto esta durar ele é com toda a certeza o senhor do mundo»[2].

Coloca-se, assim, o poder da ordem, da natureza da própria ordem, o poder de quem ordena, dos destinatários de ordens, da obediência. O poder emite ordens.

Como que numa origem biológica da ordem e do exercício do poder, Canetti afirma que «a ordem mais antiga – e é uma ordem que foi dada muito antes de existirem seres humanos – é uma sentença de morte e obriga a vítima a fugir. Será bom pensar nisso, quando se fala da ordem entre seres humanos»[3]. Nesta análise, a ordem deriva, na sua forma mais primitiva, da “ordem de fuga”, obriga o animal mais fraco a pôr-se em movimento, perseguido por outro mais forte. A diferença de poder entre ambos determina a intensidade da ameaça.

Na essência da ordem a ameaça permanece sempre presente, embora, a história humana lhe tenha incorporado uma espécie de suborno para “domesticar a ordem”. Para além da procura de segurança, a sujeição, a obediência, o “aprisionamento voluntário” decorre de uma promessa de comida: «entre o proporcionar comida e a ordem criou-se uma íntima relação […] em vez de servir de alimento ao seu dono, em vez de ser devorada, é a própria criatura a quem é dado esse tipo de ordem que recebe de comer»[4].

Tudo isto se relaciona com este tempo de populismos, que se alimentam da simplificação do discurso, que assenta num «léxico empobrecido e numa sintaxe elementar de modo a limitar o desenvolvimento dos instrumentos do raciocínio complexo e crítico»^[5].

Este processo entronca diretamente com esse mal da democracia que é o populismo ou o momento populista.

Quando as lideranças populistas jogam tudo na radicalização da demagogia, da simplificação, apelando ao inconsciente e aos sentimentos irracionais, e tocam a atitude emocional das massas, esta reflexão tem a maior atualidade. Reportamo-nos à urgência do aprofundamento da democracia.

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[1] CANETTI, Elias – Massa e Poder. Amadora: Cavalo de Ferro, 2017, p. 479.

[2] Ibidem p. 481.

[3] Ibidem p. 366.

[4] Ibidem p. 371.

[5]  U. ECO, A nebulosa fascista in Folha de São Paulo, 14/05/1985.

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[1] CANETTI, Elias – Massa e Poder. Amadora: Cavalo de Ferro, 2017, p. 479.

[2] Ibidem p. 481.

[3] Ibidem p. 366.

[4] Ibidem p. 371.

[5] U. ECO, A nebulosa fascista in Folha de São Paulo, 14/05/1985.

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