A questão dos números

Para assinalar o Dia Mundial da População, dia 11 de julho, o Instituto Pordata divulgou números atualizados da população portuguesa dando conta, entre outros indicadores, do crescimento da população nacional.

Os números, sempre valorizados no Jornalismo, foram amplamente discutidos pelos media ao longo do dia. Se, por um lado, o aumento da população foi apresentado positivamente e creditado ao fluxo migratório com destino ao território português, o envelhecimento foi, novamente, trazido ao debate como um desafio para a sustentabilidade econômica do país.

Na notícia publicada pelo jornal O Público, o título da peça traz a apreciação de que o envelhecimento é um dos problemas a ser enfrentado por uma população que está cada vez mais velha, a viver sozinha e sem crianças, ou seja, sem renovação e entregue à solidão.

Na RTP, os mesmos números foram apresentados na peça tendo como ponto de partida o crescimento da população decorrente da entrada de imigrantes em Portugal. É claro que a redução das crianças também foi referida na peça, assim como o aumento da população envelhecida e de pessoas com 100 anos ou mais. No entanto, na RTP, o ligeiro aumento de pessoas a viverem sozinhas (+1,7% de 2011 para 2021) foi apresentado sem que fosse feita a inferência de que este dado representa, automaticamente, o aumento da solidão entre os/as portugueses/as.

Viver só não é, necessariamente, viver em solidão. A RTP mostrou isso na sua peça ao mostrar e entrevistar senhores que buscam em seus passeios diários a convivência e a manutenção de uma rotina ativa. Neste caso em particular, a RTP optou por mostrar um exemplo de vivência que também não traduz a complexidade e a diversidade da vida após os 65 anos, mas, ao menos, não reproduziu (mais uma vez) a ideia de que envelhecer é viver triste e sozinho.

(EN)

To mark World Population Day on 11 July, the Pordata Institute released updated figures on the Portuguese population showing, among other indicators, the growth of the national population.

The figures, which are always valued in journalism, were widely discussed by the media throughout the day. If, on the one hand, the population increase was presented positively and credited to the migratory flow to Portuguese territory, ageing was once again brought into the debate as a challenge for the country’s economic sustainability.

In the news item published by the newspaper O Público, the headline of the piece makes the judgement that ageing is one of the problems to be faced by a population that is getting older, living alone and without children, in other words, without renewal and consigned to loneliness.

On RTP, the same figures were presented in the piece, taking as a starting point the population growth resulting from the influx of immigrants into Portugal. Of course, the reduction in children was also mentioned in the play, as was the increase in the ageing population and people aged 100 and over. However, in the RTP, the slight increase in people living alone (+1.7% from 2011 to 2021) was presented without the inference being made that this figure automatically represents an increase in loneliness among the Portuguese.

Living alone doesn’t necessarily mean living in solitude. RTP showed this in its piece by showing and interviewing gentlemen who seek to socialise and maintain an active routine on their daily walks. In this particular case, the RTP chose to show an example of living that doesn’t reflect the complexity and diversity of life after 65, but at least it didn’t reproduce (yet again) the idea that getting old is living sadly and alone.

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