Life multiplies: mothers who row against the tide

We live in a profoundly anti-natalist era: motherhood is depicted as an exhausting burden, short-term relationships seem unsuitable for long-term responsabilities, and some people even believe it is selfish to have children in a world on the brink of climate collapse. For these and many other reasons, Western societies are now facing the consequences of the relentless decline in birth rates.

In addition to the harsh economic and social consequences this trend imposes on the future of states, the current family lifestyle can lead to loneliness, less intergenerational interaction, and psychological problems for all those who feel their social and emotional potential has not been fully realized.

Therefore, studying the motivations and challenges families face at the start of this century is particularly relevant. This was the focus of social scientist Catherine Pakaluk’s book “Hannah’s Children: The Women Quietly Defying The Birth Dearth,” published in April of this year. Pakaluk’s unique approach centers on families that defy modern norms by choosing to have large families. She investigated the experiences of 55 women, all with higher education backgrounds, who opted to have five or more children, aiming to understand the motivations behind their lifestyle choice.

Today, work organization, educational costs, and consumer pressures are among the main obstacles hindering opportunities to form and sustain a family. For that reason, deciding to have many children requires a different mindset. It’s no longer driven solely by the economic utility of children or social pressures of the past. So, what explains this choice?

What motivates these individuals to swim against the tide of a society with few children? Some had always dreamed and planned for a large family, while others were taken by surprise and enjoyed the experience. Yet, none of the women expressed regret. The author, herself a mother of eight, reveals that these mothers discovered a capability they never imagined they had. While they recognized this capability within themselves, outsiders still wonder: how do they manage it? And why is it important to have many children?

Above all, they discovered in their children a key to the infinite— this study found a correlation between having many children and being religious; a religiosity that prioritizes the sanctity of life over its quality. The main idea that emerges is that these women describe motherhood as a permanent blessing that expands their capacity to love. Being a mother is the most beautiful career of all, as children give them the greatest sense of personal fulfillment.

In an era dominated by perfectionist planning, overprotective parenting, or fear of risking having children, these mothers reveal optimism and confidence in a divine plan. This optimism translates into a tendency to embrace procreation with a positive attitude and to prioritize family life.

In her careful analysis of each family’s history in its intimacy and specificity, Pakaluk leaves us with a crucial clue to consider when planning family policies: that people’s family choices are determined much more by cultural and spiritual factors than by simple economic rationality. Despite the debate on birth rates being dominated by calls for government intervention to financially incentivize childbirth, the truth is that the desire to have children mainly stems from family experiences of living with children, conversion experiences and exposure to religious values, personal longing for children, or a shared desire of the couple.

Therefore, from a public policy perspective, to respect and encourage the birth of more children, it’s essential to recognize families as creators of irreplaceable goods, rather than promoting social atomization and absolute emancipation of each individual. The role of the State in this matter is essentially to reveal that the family is an economy of prosperity and a school of fraternity.

A vida multiplica-se: mães que remam contra a maré

Vivemos numa era profundamente anti-natalista: a maternidade é retratada como um fardo esgotante, os relacionamentos parecem breves demais para possibilitar projectos partilhados a longo prazo e alguns jovens até acreditam que é egoísta ter filhos num mundo à beira do colapso climático. Por estes e muitos outros motivos, as sociedades ocidentais enfrentam hoje as consequências da implacável descida das taxas de natalidade.

Para além das duras consequências económicas e sociais que esta tendência impõe ao futuro dos Estados, o actual padrão de vida familiar pode gerar solidão, menor convivência entre gerações e problemas psicológicos em todos as pessoas que sentem que o seu potencial social e afectivo não foi plenamente realizado.

Daí ser tão oportuno estudar motivações e desafios que as famílias sentem neste início de século. Foi isso que a cientista social Catherine Pakaluk procurou fazer no livro “Hannah’s children: the women quietly defying The birth dearth”, publicado em Abril deste ano. A originalidade da sua proposta está no foco em famílias que fogem à regra moderna e que se constituem como famílias numerosas. Pakaluk decidiu investigar a experiência de 55 mulheres, todas elas com ensino superior, que escolheram ter muitos filhos (5 ou mais), com o objectivo de compreender as motivações que as inspiram a seguir este estilo de vida.

Na actualidade, a organização do trabalho, o custo do ensino e as pressões de consumo são alguns dos principais obstáculos que atrapalham as oportunidades de constituir e sustentar uma família. Assim, a decisão de ter filhos muitos filhos exige uma disposição de vontade diferente. A vontade de construir uma família numerosa já não se explica pela utilidade económica dos filhos ou pela pressão social de antigamente. Então, como se explica?

O que move estas pessoas a remar contra a corrente de uma sociedade com poucas crianças? Algumas já sonhavam e planeavam ter uma família grande, outras foram surpreendidas pela experiência, mas não existe arrependimento em nenhuma das mulheres que Pakaluk entrevistou.A autora, também mãe de oito filhos, revela-nos que estas mães descobriram uma capacidade que não imaginavam ter. Elas já perceberam que tinham esta capacidade, mas quem analisa de fora continua a questionar: como é que conseguem? E porque é que ter muitos filhos é importante? Acima de tudo, elas descobriram nos seus filhos uma chave para o infinito – e verificou-se a correlação entre ter muitos filhos e ser religioso; uma religiosidade que coloca a santidade da vida acima da qualidade.

A principal ideia que sobressai é que elas descrevem a experiência da maternidade como uma bênção permanente que expande a sua capacidade de amar. Ser mãe é a mais bela carreira de todas, pois os filhos dão-lhes a maior sensação de realização pessoal. Numa época em que as atitudes dominantes são o planeamento perfeccionista, a parentalidade obcecada com a protecção, ou o medo de arriscar ter filhos, estas mães revelam optimismo e confiança num plano divino. Esse optimismo traduz-se na tendência de abraçar a procriação com uma atitude positiva e de dar centralidade à vida familiar.

No seu cuidado em analisar a história de cada família na sua intimidade e especificidade, Pakaluk deixa-nos uma pista essencial que devemos ter em mente quando planeamos políticas da família: é que as escolhas familiares das pessoas são determinadas muito mais por factores culturais e espirituais do que por simples cálculo económico racional. Apesar do debate sobre natalidade ser dominado por apelos à intervenção dos governos para incentivar financeiramente o nascimento de mais filhos, a verdade é que a vontade de ter filhos vem sobretudo da experiência familiar de convivência com crianças, de conversão e exposição a valores religiosos, de um anseio pessoal por ter filhos ou de um desejo conjunto do casal.

Como tal, da perspectiva das políticas públicas, para respeitar e incentivar o nascimento de mais crianças, é fundamental reconhecer as famílias como criadoras de bens insubstituíveis, em vez de incentivar a atomização social e a emancipação absoluta de cada pessoa. O papel do Estado nesta matéria é essencialmente o de revelar que a família é uma economia de prosperidade e uma escola de fraternidade.

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