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Integral Human Development

A Revolução de Abril. Das entrevistas com Almada Contreiras e Martins Guerreiro.

No projeto de investigação sobre o DHI interpretado pela História Social no Portugal contemporâneo quisemos reunir elementos de contextualização sobre a revolução de 25 de Abril de 1974. Para tal, estivemos em diálogo com protagonistas.

A revolução, mais do que um ato, correspondeu a um moroso e complexo processo. A inauguração de uma nova época histórica teve no ato de derrube do regime o protagonismo do Movimento dos Capitães, dos Capitães de Abril, mas teve desenvolvimento impetuoso em virtude de uma funda maturação da história na sociedade portuguesa.

A gestação da Revolução de 25 de Abril de 1974, nascida do Movimento dos Capitães, é indissociável das dinâmicas de transformação da sociedade portuguesa em que intervieram decisivamente os movimentos sociais, nas frentes que se foram configurando como incubadoras da revolução. De acordo com Almada Contreiras, também se formou um movimento nas Forças Armadas, num processo de natureza clandestina, com uma linha organizada, especialmente a partir do verão de 1973. Como disse Almada Contreiras, estava então em marcha o Movimento dos Capitães:

«os militares sentem o pulsar da sociedade portuguesa e sabem que têm um determinado contributo a dar naquele momento histórico. E preparam-se para isso e dão esse salto. Os capitães tomam a decisão, desencadeiam um movimento capaz de ter as linhas certas e claras. Os militares têm esse mérito de terem sabido interpretar o sentir da sociedade portuguesa e também o sentir da sociedade internacional, desde logo, em relação à urgência da descolonização»[1].

Foi no contexto das incumbências sociais e políticas insculpidas na sociedade portuguesa que o Movimento dos Capitães quis dar o seu contributo histórico para alterar a sociedade, para a resolução de problemas de fundo que se colocavam a Portugal.

De acordo com Martins Guerreiro,

«o 25 de Abril nasceu de uma convicção profunda sobre a fraternidade e igualdade dos que partilhavam a condição humana. Essa foi uma poderosa motivação que nos levou a quebrar a hierarquia e a derrubar o regime ditatorial sem derramamento de sangue. Foram, pois, também razões éticas, princípios e valores que nos motivaram nesse impulso para a libertação de todos os que estavam submetidos: o povo português e os povos das colónias»[2].

Compreender aquelas razões, indagar acerca desses princípios e determinar o alcance dos valores prevalecentes nesta etapa de viragem histórica são propósitos do projeto de investigação que estamos a desenvolver.

Depois da entrevista, com o Contra-Almirante Martins Guerreiro.


[1] Entrevista com Almada Contreiras. Carlos de Almada Contreiras nasceu em Aljustrel, em 1941. O Capitão de Mar e Guerra, agora aposentado,  assumiu desde a Escola Naval uma postura oposicionista e participou na formação, no verão de 1973, do Movimento dos Capitães, depois Movimento dos Oficiais das Forças Armadas, finalmente Movimento das Forças Armadas, que tornou possível a revolução de 25 de Abril de 1974. Desempenhou papel crucial em órgãos de poder  depois do 25 de Abril, como a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado, o Conselho dos Vinte e o Conselho  da Revolução.

[2] Entrevista com Martins Guerreiro. Nascido a 11 de outubro de 1940, em São Brás de Alportel, Martins Guerreiro cursou a Escola Naval, onde se licenciou em ciências Militares e Náuticas, e a Faculdade de Engenharia de Génova, onde se licenciou em Engenharia Naval e Mecânica. Foi um dos destacados elementos na preparação e dinamização do movimento dos militares que derrubou o Estado Novo. Integrou vários órgãos do Movimento das Forças Armadas, foi membro do Conselho da Revolução desde a sua criação até à sua extinção.

[ENG]

The April Revolution. Interviews with Almada Contreiras and Martins Guerreiro.

In the research project on DHI interpreted by Social History in contemporary Portugal, we wanted to bring together elements of contextualization about the revolution of April 25, 1974. To this end, we were in dialogue with protagonists.

The revolution, more than an act, corresponded to a lengthy and complex process. The inauguration of a new historical era had, in the act of overthrowing the regime, the leading role of the Captains Movement, the Captains of April, but it developed impetuously due to a profound maturation of history in Portuguese society.

The gestation of the Revolution of April 25, 1974, born from the Captains’ Movement, is inseparable from the dynamics of transformation of Portuguese society in which social movements intervened decisively, on the fronts that were configured as incubators of the revolution. According to Almada Contreiras, a movement was also formed in the Armed Forces, in a process of a clandestine nature, with an organized line, especially from the summer of 1973 onwards. As Almada Contreiras said, the Captains Movement was then underway:

«the military feel the pulse of Portuguese society and know that they have a certain contribution to make at that historical moment. And they prepare for that and take that leap. The captains make the decision, trigger a movement capable of having the right and clear lines. The military has the merit of having known how to interpret the feelings of Portuguese society and also the feelings of international society, from the outset, in relation to the urgency of decolonization»[1] .

It was in the context of the social and political responsibilities established in Portuguese society that the Captains Movement wanted to make its historic contribution to changing society, to solving fundamental problems facing Portugal.

According to Martins Guerreiro,

«the 25th of April was born from a deep conviction about the fraternity and equality of those who shared the human condition. This was a powerful motivation that led us to break the hierarchy and overthrow the dictatorial regime without bloodshed. It was, therefore, also ethical reasons, principles and values ​​that motivated us in this drive for the liberation of all those who were subject: the Portuguese people and the people of the colonies» [2].

Understanding those reasons, investigating those principles and determining the scope of the prevailing values ​​at this historic turning point are the purposes of the research project we are developing.

After the interview, with Martins Guerreiro


[1] Interview with Almada Contreiras. Carlos de Almada Contreiras was born in Aljustrel, in 1941. The Captain of Sea and War, now retired, took an oppositionist stance from the Naval Academy and participated in the formation, in the summer of 1973, of the Captains Movement, later the Forces Officers Movement Armed Forces, finally the Armed Forces Movement, which made the revolution of April 25, 1974 possible. It played a crucial role in bodies of power after April 25, such as the National Salvation Junta, the Council of State, the Council of Twenty-five the Council of the Revolution.

[2] Interview with Martins Guerreiro. Born on October 11, 1940, in São Brás de Alportel, Martins Guerreiro attended the Naval School, where he graduated in Military and Nautical Sciences, and the Faculty of Engineering of Genoa, where he graduated in Naval and Mechanical Engineering. He was one of the outstanding elements in the preparation and dynamization of the military movement that overthrew the Estado Novo. He was a member of several bodies of the Armed Forces Movement and was a member of the Revolutionary Council from its creation until its extinction.


OpenEdition sugere que esta publicação seja citada da seguinte forma:
edgarsilva (25 de Abril de 2024). A Revolução de Abril. Das entrevistas com Almada Contreiras e Martins Guerreiro. Desenvolvimento Humano Integral. Recuperado em 12 de Novembro de 2024 de https://doi.org/10.58079/wb7g


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